sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

CONTOS CONTINUAÇÃO

8. FUI SEGURANÇA DE MEU PAI
Coincidência, estava com a idade de dez anos. Meu pai e seu sócio se desentenderam. Eram proprietários das Fazendas “São Sebastião” e “São Pedro”. O contendor teria contratado dois “capangas” para a execução de meu genitor. Fui, então, treinado com uma cartucheira, calibre “24” e um revólver calibre “38”, “Corte Cavalinho”, alemão. Tornei-me exímio atirador. Usava o revólver, sob a camisa solta, quando saíamos a cavalo no território das fazendas ou nas vizinhanças. Segundo raciocínio lógico, jamais ocorreria desconfiança. Se alguém tentasse alvejá-lo, teria oportunidade de defendê-lo. Bem antes do amanhecer, ficava no canto do casarão, arma em punho, enquanto ele acionava o sino, acordando os colonos.
         Esses sucessos povoaram minha infância, adolescência e juventude. Entretanto, não revelo estes fatos em detrimento de meu pai. Se voltassem as circunstâncias, agiria da mesma forma. Defenderia a integridade física de meu ídolo.
         Numa ocasião tivemos a notícia de que o sócio viria “conversar”. O homem chegou vestido de terno de linho, branco, conforme seus costumes, era médico. Foi recebido na saleta. Quando minha mãe lhe trouxe a bandeja de café, este tocou no bule, rejeitando a oferta, quando o líquido quente caiu sobre meu irmão ao colo materno. Arremessado ao portãozinho de madeira, este se rompeu e o indigitado se projetou no terreiro de secar café e seu revólver caiu sobre o cordão. Encontrava-me na sala contígua, já havia lhe direcionado a cartucheira, carregada para matar capivara. Entendi que, ao recobrar a arma, atirasse em meu
pai. Levantei os dois cães rapidamente, apontei para a cabeça do desvairado, quando, graças a Deus, colocou o trinta e dois no bolso e saiu a passos largos. Na eventualidade lamentei não tê-lo destroçado para liquidar o problema.
         Divididas as terras, fui incumbido de retirar nosso gado, que se encontrava na parte que coubera ao ex-sócio. Benedito Rodrigues Fróis, nosso Fiscal e eu fomos ao pasto. Meu pai havia ido à cidade e recomendara que levasse o “38”. Quando tocávamos a boiada, parou perto da porteira o veículo, que levava o proprietário e os dois capangas, que sempre desejei ardentemente na mira do revólver. Foi quando o desaforado me perguntou de quem eram as rezes. “De quem é esse gado, menino?” Dei-lhe resposta na proporção da ironia da pergunta, quando ele insultou meu companheiro indagando se este era guarda-costas de meu pai. -”Seu Olympio não precisa de capanga, mas se for necessário eu lhe mato”. Sacando sua faca, plantou os pés descalços no solo. Eram três, saquei o revólver direcionando-o para a cabeça do único inimigo de meu pai. Eles correram em direção ao automóvel e se foram. Assim, pela segunda vez, perdi a oportunidade de fazer justiça com as próprias mãos.

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