segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

VÉSPERA DE NATAL

Acreditávamos em Papai Noel. Cada um tinha um par de sapatos para colocar à janela. O bom velhinho, de passagem, haveria de deixar presentes.
                   Mas, o Tonico da Rosária (sua avó), além de órfão de mãe, não tinha sapatos. Nunca tivera, jamais experimentara a sensação de calçar-se. O que fazer? Foi onde eram jogados os restos e encontrou uma botina, que molhada pela chuva e ressequida ao sol, entortara-se.
                   Contudo, pensou, São Nicolau não haveria de discriminá-lo, considerando sua pobreza. Voltou para a choupana, colocou a botina na janela. Não sabia escrever, olhou para o céu, contemplou as estrelas, rezou oração ensinada pela mãe, quando aprendera falar. Não sem antes recordar-se dela. Pediu-lhe sua intercessão, entrou e foi dormir.
                   Ele era meu companheirinho de montaria em cavalinho de bambu e tira de morim. Havia falado de suas intenções e me preocupara.
                   Antes que viesse a manhã, revistei meu sapatinho e encontrei, ao seu lado, um cavaquinho, instrumento de quatro cordas. Desci a trilha para a Colônia e fui ter à janela do Tonico. Seu cãozinho abanou-me a cauda e fez festa. Acostumara-se com  minha presença, diária.
                   Pendurei o instrumento num prego do batente e me devolvi à minha casa.
                   Pela manhã, indagou meu pai: “onde está o presente, que o Papai Noel lhe trouxe?” – Errara o endereço e, certamente, fora a outro local, respondi.
                   Quando meu companheirinho chegou tocando o instrumento musical, meu pai entendeu minha boa ação. Calou-se e recomendou, em minha ausência, quando rodeara o presenteado, minha mãe e irmãos nada dissessem.
                   Na manhã seguinte, meu genitor foi à cidade e me trouxe um violão. Encontrara o Bom Velhinho em retirada e este se corrigira do esquecimento.
Tonico teria sido músico noutra existência. Em pouco tempo aprendera a tinir seu presente natalino. Eu nunca passei de ruídos dissonantes.
                   Já moço, fazia o maior sucesso. Quando havia baile na Fazenda, fazia o acompanhamento ao Sabino, exímio toucador de violão, a quem dera o meu.
                   Já mocinho, regalava-me dançando com as caboclinhas ao som das músicas do Sabino e do Tonico.
                   Era tão bom!... Fui, plenamente, compensado, sempre achei que mulher é o melhor presente de Natal.

CONTOS CONTINUAÇÃO

SÃO TANTOS OS ANDARES ...

                                                             SPCunha

                   Em longa existência, num sucessivo mundo colorido de sonhos, arquitetei enorme edifício. Em cada andar, coloquei uma princesa, preferentemente, jovem. Bem no centro, há um elevador envidraçado. Cada vez que subo, vejo os cômodos vazios, foram-se todas para seus destinos. Ainda percebo suas vestes e as recordo desnudas. Ficou, apenas, tão somente, o perfume, doce aroma de cada uma delas. De todas, sinto saudade. Foram minhas esposas de plantão. Não me importa por quanto tempo. Rescende o trescalar das flores, a intensidade dos afetos. Retenho indelével, litúrgico, as confissões proferidas. Eram juras de eterno amor e estas não se extinguiram. Estão presentes em meu imaginário. Há uma saudade para cada instante de ternura.
                   Hoje, tudo está deserto. Quando aciono o botão do elevador, para subir, vou até o último andar. Ninguém encontrando, automaticamente, retorno ao térreo e encontro muitas delas, caminhando pelas ruas. Às vezes, percorro as vinte e tantas cidades, onde residi e vou identificando antigos amores. Muitas encontraram seus verdadeiros
escolhidos. Casaram-se, de verdade, criaram raízes profundas. Desejo-as muito felizes.
                   Ser-me-ia edificante escrever a história de cada romance. Poderia ser um livro com inúmeros capítulos. Entretanto, não resistiria tamanho impacto.
                   Mas, do fundo do meu coração, proclamo: amei-as todas, as cobri de carinhos, no desejo de fazê-las felizes, enquanto cumpriam o seu mandato. E o fizeram com ardor e competência.
                   Aos curiosos, direi que este é o segredo de minha longevidade. Esta será prêmio ou castigo? Pouco me importa. O extraordinário é que o prédio de meus sonhos não ruiu, passou pelo tempo, está firme e ereto. E o controle social? Acaso, sociedade existe? Já nem mais sei. Importam-me o que penso de mim mesmo e as lembranças dos eflúvios decorrentes das madrugadas de delírio. Privilégio, fortuna de poucos!... Agora, estou a edificar a cobertura. Certamente, o derradeiro andar.


Sensacional

                   Espetacular foi a entrada da espanhola no palco. Curvas perfeitas, voz melodiosa, acenos frágeis. Aconteceu nos idos de 1946. Estava hospedado no Castelo da Praça, então, Barão do Rio Branco, hoje, João Zelante.
                   O Jorginho, turquinho malandro, desde a infância, convidou-me e fomos ao Cassino do Grande Hotel. Era um espetáculo de artistas da Rádio Gazeta. A espanholita tocava castanholas como ninguém. O pai do Nélson Vaca e o gerente da Casa Bancária, bolsas abastadas, disputavam as benesses da cantora. O Nélson, nosso colega de internato, chorava raivoso. “Minha santa mãe dormindo em casa e meu pai nessa traição
diabólica”. Quem venceu a parada foi o homem de finanças. O filho único, sentiu-se vingado. “Meu pai perdeu a parada.
                   Nós rodeávamos o balcão das bebidas, quando, meia hora após, surgiu o Sto. C. com o terno de linho amassado, um pouco de visível poeira e foi dizendo, “além de homem, é bom de briga”. Apanhou e foi obrigado a trazê-lo de volta.
                   Acabou o espetáculo. O turquinho já morreu. Fiquei para narrar os sucessos.


O BEPE E A BASTIANETA
                                                                                                                 
                                   
                                      Penso que além da memória consciente, da subconsciente, da inconsciente, dos arquétipos e mais o que se possa ter até agora descoberto, existe a memória genética, algo que independe do ser e está no mais profundo do ser, na célula primeira e nas que se lhe seguem, e ao nascer já está em si, já é seu como a pupila, ou a carótida. No fundo de cada ser vem o essecial do que ele será.  
                                                                            Carlos Lacerda, em a CASA DE MEU AVÔ.
                                 
             Guardavam do nascimento, a marca e a dinâmica de suas origens. Memória das células, simplicidade franciscana. Diariamente, percorriam as ruas centrais de serra negra, acompanhados de seus rafeiros. Eram-lhes, o patrimônio. Embora em tempos da segunda grande guerra mundial, desconheciam-na. Não eram beligerantes.
                   Traziam latinhas, nas quais almas caridosas depositavam alimentos. Comiam primeiro, seus cãezinhos, após eles. O povo, perplexo, se admirava desse procedimento. Finalmente, devolviam-se à água furtada, casebre de arrabalde, habitada por eles.
                   Os dois se amavam tanto, traduzido na troca de ternos olhares, conversa velada de enamorados permanentes.
                   Eram as figuras mais pobres da comunidade. Pobreza econômico-financeira. Entretanto, fortuNa incomensurável de humildade e invejado desvelo pelos seus semelhantes.
                   Assim ocorreu, até que Bastianeta ficasse viúva. Ao partir para a eternidade, bepe não deixou roupa, foi enterrado com um vestido de chita da mulher, que tanto o amou e se consumiu, afogada na saudade.
                   Esses épicos sucessos deram origem à uma campanha promovida pelo Dr. Jovino Silveira, médico e “pai dos pobres”.
                   Sob o pálio da pobreza, dos dois milionários do amor, o povo financiou a construção do Asilo “São Francisco de Assis”, que vem abrigando centenas de necessitados. Lá encontramos a fotografia das figuras mais nobres e carismáticas da História de serra negra.
                   Adentrando, àquela casa de caridade, sentimos a presença dos personagens originários daquela obra. Interiorizamos, então, forte vibração e começamos a entender a magnífica lição cristã, administrada por dois rurículas, cuja aposentadoria recebiam em suas latinhas, pedindo esmolas.
                   Amavam-se, conversando com Deus!...
                   Sabemos que a existência, efêmera, tem início na concepção e termina com a morte do soma, quando a alma passa para a vida, esta eterna. Lá, no outro plano espiritual, no convívio com Deus, certamente, estão Dr. Jovino Silveira, “Pai dos Pobres”, bepe e bastianeta,
reunidos. espíritos cintilantes, esparzindo luz sobre os que caminham aflitos por este vale de lágrimas.
                   Foram, os três, seguidores de Jesus, quando disse: Amai-vos, uns aos outros, como eu muito vos amei!...


Duas pedras ...

                   conversavam à beira de imenso rio. Vinham de longe, pouco abaixo da nascente. Confidenciaram, após muito rolar. - Desprendi de elevada rocha, diz a maior; desliguei-me das raízes de uma árvore, pelo que me dizes, na orla oposta, contempla a menor. Numa só identidade, as duas deitaram-se pela cachoeira abaixo, durante uma enchente de janeiro e as águas, em espadano, cantaram, atirando-as na esplanada.
                   Ali estavam expostas, desnudas, aos raios solares, sonolentas, sobre a areia tépida. Saudosas dos ares da cumeada da montanha, cônscias de que, jamais, voltariam às origens...
                   - Assim, ocorreu com um imigrante, extraído da terra natal. vindo, nos porões de um navio precário, sacolejando. Atracado ao porto de Santos, viera a viatura, levando-o para o abrigo do Brás, donde foi
conduzido a uma fazenda de café. Sem esposa e filhos, carpiu, de sol a sol, concomitante às agruras da ausência da família. Em longo período, passou fome, acumulou uns mil réis e escreveu para que viessem os seus. Estes não mais lhe pertenciam. Marido ausente, um novo assente... Sua Maria caíra nos braços de um seu compatriota. Aquela integral família nunca veio. Giussepe se arranjou com uma negra da cor do azeviche e, quando olhava para os negrinhos, os comparava, mentalmente, aos deixados do outro lado do oceano, de cabelos loiros e olhos azuis.
                   Mas, a negra era frequente no eito, ajudava-o, sob todos os títulos e o imigrante progrediu. Alimentava-se de feijão preto e polenta. O complemento eram laranjas dos cafezais.
                   Já bem sucedido, proprietário rural, seu filho e da Antônia, Tonha, como a chamavam, foi convocado para integrar o exército brasileiro e servir na Itália. Era a segunda Grande Guerra Mundial, os aliados e o eixo, em confronto, no território europeu. Raimundo chegou a participar da tomada de Monte Castelo. Antes, estando em Palermo, conheceu Anita. Eles se amaram, nasceu Giovani.
                   Já no Brasil, em 1945, após o célebre “tratado de São Francisco”, mandou dinheiro. Anita e o bambino vieram para o Brasil.
Raimundo foi buscar a amada e o filho, no cais do porto. Permaneceram, durante três dias na Capital do Estado, visitaram os pontos de destaque e, finalmente, se endereçaram à fazenda, localizada no Bairro do Pantaleão, no município de Amparo. Quando chegaram à propriedade, seus pais os esperavam, em ritual latino de festa, um jantar, no qual não faltavam deliciosas iguarias e o aroma dos assados chegava à sala de visitas, cadeiras e canapé de palhinha, num convite para rápido descanso e a mesa, onde as garrafas de vinho importado da Itália, compunham o evento.
                   Quando o casal adentrou a varanda, um tremor subiu pela espinha dorsal do abastado fazendeiro.
                   Anita era bela, cabelos loiros, doirados, rosto e corpo bem feitos, olhos claros e cismadores. Giussepe viajou no tempo, atirou seu pensamento ao quadro da despedida, em Nápolis. Recordou Maria, em seu conjunto e harmonia. Ponderou sobre a traição e a nora era a mãe, ali presente. Acabou a recepção. A cena foi dolorosa. Anita era, desgraçadamente, filha de Maria e, naquele encontro constrangedor, confessa ao companheiro, pai de seu filho, a história narrada por sua mãe.
                   Giussepe se recolhe amargurado ao quarto bem mobiliado. Tonha serve o jantar e Raimundo, sentado
numa cadeira, lá num dos cantos, perde a palavra. Começa a pensar que, também, traíra o pai.
                   - Íamos deixando de ponderar sobre as duas pedras. Uma tempestade sem precedentes estrapola as águas do rio, as duas pedras são atiradas ao fundo e se distanciam, perdem o contato, não mais conversam, senão telepaticamente. Passado o tormento, uma draga suga a areia e as duas pedras se abraçam a caminho da construção de enorme edifício. Integram o alicerce, um mesmo concreto. Nunca mais se separam.  Essa força superior, a nos conduzir implacavelmente e uns a entendem como o destino, as conjuga e, ali permanecem desafiando os séculos.
                   Tonha, mulher sem leitura, descendia de escravos, guardando, na memória das células, as desventuras trazidas das costas africanas. Contudo, de alma nobre, relembrava as cerimônias de Xangô e do Condomblé, razava, à noite, com seu terço puído, contemplava, nas estrelas, suas amargas origens. Amava Giussepe e seus filhos. Olhando os olhinhos de Giovani, começou a amá-lo, também. Figura inocente, cândida. Quando este chorava, corria à cozinha, trazendo à mãe, vinda do outro lado do oceano, um chazinho mágico e a criança passou a sorrir para ela, num doce sorriso, devolvendo-lhe uma mensagem de paz.
                   O clima, o relacionamento, na fazenda, passou a ser tenso e insuportável. Contudo, as palavras
generosas, ditas à noite ao marido, foram calando fundo e seu coração a se abrandar. Giussepe já carregava seu neto e da indigitada ex-esposa, que o traíra em sua própria terra natal. Passou a conversar com a nora, em breves trocas de palavras.
                   Foi quando, numa noite de Primavera, próximos ao lampião de gás, Anita entregou ao sogro uma longa carta, escondida até então, na qual Maria pedia perdão ao ex-marido. Dizia, “eu estava exposta a mais terrível miséria. Armando me procurou e socorreu nossos filhos. Deu-lhes alimento e trabalhava numa forja, dela provindo o sustento de todos. Todavia, nunca deixei de lhe amar. Na escuridão de minhas noites, sofri o refrigério. Nossos filhos se casaram e nos deram netos, venha conhecê-los”.   Lágrimas vieram das profundezas da alma do bom batalhador de bronze.
                   Eis que, certa manhã, confidencia à família. Iria à Itália conhecer seus netos, levaria a Tonha, sua devotada companheira. Partiram num navio, não naquele bastimento, que viera, entretanto, em confortável transatlântico. Cruzaram o oceano. Tudo lhe era novidade e o companheiro, carinhoso, explicava coisas sabidas e esta, perplexa, agradecia à Iamanjá, por lhe proporcionar tanto. Desde sua chegada à Península Itálica, Tonha foi adquirindo, com suas parcas reservas, lembranças e, também, ao pequenino Giovani, o qual já tanto amava, como aos demais familiares.
Quando chegam a Palermo, um denso nevoeiro cobria os céus. O coração de Giusssepie se aperta, iria ao encontro de sua família. E a Maria?  “Bruta béstia, traidora, repugnante”. Caía a tarde, atravessam uma viela e se dirigem ao local, que um dia deixara. Um pano preto, na porta, os surpreende. Identifica, de pronto, seus filhos, que o abraçam, com infinda ternura.
                   Ali repousa o cadáver de Maria. Tem um rosário nas mãos superpostas. Algumas flores coloridas, ornam o esquife.
                   Num guarda-louças, envelhecido pelo tempo, destaca-se uma fotografia antiga. Nela, Giussepi, Maria e os filhos. Segundo seus filhos, nunca saíra dali. Armando os respeitara e já havia anos, falecera.
                   Os filhos choraram, chorou a Tonha, debulhou-se em lágrimas, Giussepe. Uma tristeza oceânica os envolve, até o instante quando levaram à necrópole, a falecida.
                   Giussepie e Tonha visitaram a todos os parentes. Três meses passados, todos vieram para o Brasil. A fazenda tinha um longo território e daria para abrigar patriarcal família.
                   Agora, Giovani e os parentes, de sua idade, passeiam, a cavalo pela herdade. Consagrou-se uma família muito respeitada.
                   Veio o padre, Giussepe e Tonha se casaram.. Os padrinhos foram todos os seus filhos e netos, da Itália e do Brasil, também, a nora. Houve muita festa, assados e vinho.
                   Como as pedras, sedimentaram uma convivência para a posteridade.
                   Com respeito mútuo, até as pedras se entendem!... Por que não os humanos?

CONTOS CONTINUAÇÃO

 24. POMBINHO

                   Aos meus cinco anos de idade, voltamos a residir na Fazenda “São Sebastião”, pertencente ao meu avô paterno; não bem me recordo, se em fins de 1936 ou início de 1937. Era época de calor, portanto, Verão. Minhas irmãs, alunas do Grupo Escolar de Serra Negra, passariam a frequentar a Escola Mista do Bairro das Tabaranas de Baixo, distante dois quilômetros da sede da Fazenda, onde residiríamos. Por quinhentos mil réis, meu pai adquiriu, ao Mário Pinheiro, um cabriolé e um cavalinho branco, cujo nome era Pombinho.
                   Pombinho, muito manso e de trote, nosso genitor disse ser meu e o conservei até 1949, quando foi vendida a propriedade rural. Sua idade já era de mais de vinte anos, pois que, quando chegou, já contava com cerca de oito.
                   Tive, no curso da existência, inúmeros cavalos, dentre eles, o Diamante, que pertencera à Globo e quando da novela Fera Ferida, em seu lombo, Linda Inês, ia montada,  encontrar-se com Flamel.
                   Confesso, de nenhum deles guardei tão magníficas lembranças. Montando Pombinho, aprendi cavalgar. Passeava com ele pelas estradas e cafezais, quando proferi as primeiras alocuções, discursando às aves, postadas nas vergônteas sésseis dos cafeeiros, que, durante o Inverno, seguravam os bagos vermelhos da rubiácea. Foi, indubitavelmente, o Pombinho, a primeira vítima de minhas prosopopéias. Quando iniciava a oração, ele diminuía a marcha; ao me empolgar,
elevando a voz, esticava o passo-troteado, abanando as orelhas, como a me aplaudir. Pombinho foi meu mais fantástico amigo!

CONTOS CONTINUAÇÃO

22. DE QUANDO FUI PROCURADOR DE MEU AVÔ


Sempre relatei minha admiração pelo meu avô paterno. Teria sete ou oito anos de idade. Chico Ramos fora escolhido para festeiro de Nossa Senhora das Brotas, evento de todo Oito de Setembro. Eram seus últimos tempos. Estava enfermo, impossibilitado de lá comparecer. Pediu à minha mãe, que me levasse para representá-lo. Meu pai não poderia desempenhar a tarefa, tinha compromissos naquela data. Era Juiz de Paz em Serra Negra e, nesse dia, haveria cerimônia de casamento civil.
Fomos de trole, como sempre. Minha mãe no lugar da vovó Amélia.
A cerimônia foi fantástica. Olegário de Castro, comandante da congada, da qual fazia parte o João Miranda e sua família, no portal da Igreja Matriz, de Lindóia. Os dois cruzaram suas espadas de metal, quando minha genitora e eu entramos, ela, apoiada no meu braço direito, eu compenetrado em figurar meu ícone; caminhamos nessa postura até as imediações do altar, quando nos sentamos nos primeiros lugares do primeiro banco.
Tenho tido uma existência longa. São setenta e sete anos de muitas peripécias. Nesse percurso, tive oportunidade de participar de inúmeras celebrações, muitas delas de grande importância. Nunca fui tão destacado.
Não sabia meu progenitor que voltaria à Serra Negra para testemunhar sua presença, nestas paragens, por mais de sessenta e cinco anos.
Mais tarde, à partir dos  dez anos, fui Segurança de meu pai.
- Foram as importantes tarefas de toda minha existência: representar o Capitão Francisco Pinto da Cunha e preservar a integridade física de meu genitor.


23. DEUS É ENERGIA


                   Somos sua parte imanente. Logo, energia... À concepção nos permite a materialização, que se dissipa com a morte do soma, volta ao pó. O período integrante da existência se configura num percurso constituído por um complexo de fatos, uma linha de tempo. Daí a razão do calendário, essa invenção necessária. Necessariamente, o tempo não passa, passamos nós.
                   É sempre útil filosofar, forma de nos elevarmos, permitindo uma resposta à permanente indagação: Somos quem?
                   - Somos partícula ínfima do grande universo. Universo sem início ou fim. Como tal, sempre fomos e seremos. Encontramo-nos no conteúdo. Como tal, nossa importância.
                   Já passamos em inúmeras existências, passaremos por outras. Estamos envolvidos num processo evolutivo. A energia não é estática. Porém, motriz em sua multiplicidade de configurações.
                   Estas digressões são necessárias na busca da verdade.
Quando Pilatos retorna ao pretório balbucia: “O que é a verdade?” Cristo acabava de afirmar que viera ao mundo dar o testemunho da verdade. Referia-se Jesus à verdade essencial, relacionada ao Autor da existência. Verdade geradora, fonte da criação, capaz de multiplicar pães, curar leprosos, restaurar a vida. Jesus Cristo fora enviado pela Perfeição para pregar o amor, a fé, a esperança e a caridade. Amai-vos uns aos outros, como muito vos amei, dissera o Redentor do Mundo, no Sermão da Montanha. Mais tarde, São João o Evangelista, em epístola à Cristandade , afirma: “aquele que diz que ama a Deus e não ama ao seu semelhante é mentiroso, porque quem não ama ao seu semelhante, que vê, não pode amar a Deus, a quem não vê”.


sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

CONTOS CONTINUAÇÃO

  17. VAGUEANDO NA ORLA DO CAMINHO
                                       
É uma velha, antiga, estrada municipal, que liga a cidade ao asfalto Lindóia-Itapira. Atravessando a Mata do Juca Preto, o Bairro das Tabaranas, em direção ao dos Costa, próximo a uma encruzilhada, logo após o Sitio do Romão Massaro, há uma cerca margeando, onde, em noites enluaradas, repete-se uma cena demorada e persistente: uma jovem, vestida de noiva, cabelos e olhos negros, acompanha todo o trajeto, até as imediações do Sítio do Vino Fróes. Caminha a passos largos, vai e volta ansiosa, cabelos tombados aos ombros, abaixo da cintura, em cerimônia curiosa. Pássaros noctívagos esvoaçam das, pousando nas lascas de madeira, que sustentam os fios de arame farpado. Assustam-se com a figura da jovem, compondo a cena esmaecida com as réstias misteriosas da Lua gélida e indagativa. Em tempos pretéritos chamou-se Joana, noiva de Zacarias, um caixeiro-viajante, que a visitava uma vez por mês, numa permanência de quase uma semana, quando ambos costumavam ir à fontinha, pouco acima e, ali sentados, permaneciam horas, desfrutando os doces enlevos da mocidade. Esse romance durou quase dois anos e assumiu comentários e suposições, de tudo, ficando a lenda.
Pronto o vestido de noiva, preparada a festança, convites a toda parte, sacrificados os garrotes, leitões, cabritos, perus e muita galinha gorda para a canja, veio o padre da Paróquia Nossa Senhora das Brotas, os coroinhas Totó, Dinho, as meninas que cantavam no Coro, Nega e
Terezinha, para a marcha nupcial, devendo esta começar na porteira de entrada, entre bambolins e bandeirinhas de papel de seda, coloridas, indo transpor a porta da capela, até, finalmente, o altar. Ali, ajoelhados, deveriam se consagrar um ao outro, na consolidação de uma terna história de amor. De tudo, hoje, a lenda e as aparições aos videntes do espectro de Joana. O noivo não compareceu. Aguardou-se sua chegada, com o Ford Vinte e Nove, Pé de Bode, pneus de faixa branca, impecável e lustroso. Cada ruído da chegada de mais de um veículo, os olhos da jovem se fincavam na encruzilhada, esperança que derreava com a presença de mais um convidado, vindo, às vezes, de longe. Estava tudo preparado, os largos tachos cozinhavam o saboroso alimento, recendia o cheiro apetitoso das carnes assadas no forno da fazenda e no improvisado, este enorme e repleto de assadeiras fartas. Já era tarde, todos sentiam fome, não obstante bandejas de biscoito de polvilho, xícaras de leite e café, que não ofereciam a mesma situação das iguarias, a macarronada e outras comidas deliciosas, anunciadas. Caía a tarde, nada de Zacarias. Joana chorou tanto, nunca deixou de chorar. Uns levaram, para suas casas, algum pedaço de carne. As crianças já se acomodavam nas conduções, enleadas em mantas e outras cobertas.
Foi o término de uma festa, que não começou, na qual não faltou família amiga.
Quando desapontados, todos partiram enigmáticos. Uma sombra escura caiu sobre os montes e vales. A cachoeira gritou forte, como se chorasse solidária aos soluços da noiva rejeitada. Não houve quem não indagasse sobre o indigitado. Um simples olhar à noiva abandonada e ela já respondia: “ele virá”.
Joana acreditou na chegada do noivo, como a criança crê que o pai trará os brinquedos e doces avençados. Prosseguiu à espera, até perder o senso e a juventude, quando a tuberculose lhe extraiu a vida. Morreu pálida e linda. Foi enterrada com o véu de grinalda, buquê de flores de laranjeira, trescalando suave perfume.
Contam os videntes que Joana, todas as noites, ladeia a cerca do caminho, lá pela encruzilhada, aguardando o Ford, conduzido pelo tratante Zacarias.


18. A MANJEDOURA, AS OLIVEIRAS E A CRUZ


(Remorsos da humanidade em soneto e poema)
(Reflexões sobre o nascimento, a pregação e a morte de Jesus)
(A Manjedoura. as Oliveiras e a Cruz eram de madeira)

Em uma manjedoura, tabuleiro,                   
Onde se põe comida aos animais,        
Na companhia de seus pais,                    
Nasceu um filho de humilde carpinteiro,

Olhos verdes, semblante bom, sereno,  
Para adorá-lo, vieram de seus pagos,     
Trazendo mirra, incenso, Três Reis Magos,  
Eram as Boas Vindas ao Nazareno.

Agora, dois milênios são passados,
Nós cometemos os mesmos vis pecados,
Vinte séculos não foram suficientes.
Somos Pilatos, sórdido, arguto,
Sangrando o coracão daquele Justo,
Denegrindo, poluindo nossas mentes.

A Manjedoura, as Oliveiras e a Cruz
(O amor é atributo d’alma, associa os fortes.
O ódio é iníquo, perverso, isola os fracos)

Era uma manjedoura, tabuleiro,
Onde se põe comida aos animais,
Na companhia de seus pais,
Nasceu um filho de humilde carpinteiro.

Olhos verdes, semblante bom, sereno,
Para adorá-lo, vieram de seus pagos,
Trazendo mirra, incenso, Três Reis Magos,
Eram as Boas Vindas ao Nazareno.

Agora, dois milênios são passados,
A manjedoura, o Monte do Calvário,
Eis o pano de fundo, luz, cenário,
Sem redenção de nossos vis pecados.

Do Sermão da Montanha, voz divina,
Da mensagem: amai-vos uns aos outros,
Esqueceram-se os homens, versos soltos,
Não souberam guardar a Obra-Prima!...

Dois mil anos não foram suficientes,
Renovam-se Caifás, eis Barrabás,
Unidos ao Satanás, junto de Anás,
Denegrindo, poluindo nossas mentes.

Somos Pilatos, sórdido, arguto,
A mesma turba, idêntico aparato,
No julgamento estéril, insensato,
Lavando as mãos no próprio sangue de um Justo.

Caminha a humanidade, vã, funérea,
Jesus, ainda, prega no deserto,
Cada vez mais estamos em incerto
Rumo, atitude mórbida, até etérea.

Mas do crime e milagre, ficou o sacrário,
Fac Smile, Filho do Homem, Enviado,
Na cópia positiva do Sagrado
Manto, do Cristo Fé, o Santo Sudário.

A manjedoura, feita de madeira
E dela, fabricada mesmo a Cruz,
Onde um dia, por nós, morreu Jesus,
O Sermão da Montanha, as Oliveiras.

Medíocres queimadores de carvão
Transformamos, em cinzas, a Palavra,
Fizemos, de nós mesmos, dura clava,
Enrijecendo o próprio coração.
Entretanto, há uma réstia de esperança,
Ensinaram-nos nossos ancestrais,
Nunca, jamais, será tarde demais,
Adotar a pureza d’uma criança.

O episodio da Cruz, vem cada dia,
A crucificação é de todo instante,
Ajudamos a matar o pobre infante,
Pisoteamos a Virgem Mãe Maria!..


19. CRIANÇAS
                                               Profa. Aracy Sodré Marchi



Crianças, que na escola eu conheci um dia
E às quais, do puro afeto maternal doei
Uma parte, talvez a mais linda, quem sabe,
Crianças que eu amei!

Quando esta quadra perder-se na neblina,
Do tempo, que veloz desafia a afeição,
Seja qual for a idade, que conteis nessa hora,
Sereis meu coração!

Crianças, que eu amei! Anjos loiros e meigos,
Morenos ou bronzeados,
A pele não importa – Sereis sempre lindos filhos meus,
Batendo à minha porta!

Procurai distinguir, na distância do tempo,
A mestra, que a vós, dedicou afeição,
Puro amor maternal – E vos tem
Encerrados – Dentro do coração!

Ao escrever para vós estas quadras
Singelas, - Palavras, que sentindo o coração
Ditou – Em segredo vos digo,
Meus filhos queridos, Vossa mestra Chorou!


          20. POR TUAS LÁGRIMAS
                       (SPCunha)

       (Pelos teus discípulos)


Não chores, dedicada, doce mestra,
Embora percebamos em seu pranto,
Um purpúreo, vermelho-escuro manto,
O som dolente duma terna orquestra.

Luz diáfana emerge de tua testa
E, de teu vulto esbelto, suave, santo,
Que amamos delirantes, tanto, tanto,
Tremeluzem estrelas, tudo é festa.

Nosso carinho, em ti, logo se apresta,
Somos árvores duma só floresta,
Quais vozes dum sonoro, rico canto.
Não chores dedicada, santa mestra,
Olha bem como toca nossa orquestra,
Eis que te amamos, tanto, tanto, tanto!...



Éramos dez irmãos. Fomos muito felizes, enquanto permanecemos solteiros. Sempre unidos, caminhávamos alegres.
                   Um dia resolvi me casar. Antes que fizesse a primeira burrada, ao conselho paterno, fomos ao fotógrafo. Disse-nos, meu pai, que estava periclitando nossa paz.
                   E aconteceu. Nunca mais tivemos tranquilidade. Foi um desastre total.
                   Houve um tal de casar e descasar. E os que ficaram juntos, não sei por quê?
                   A vida a dois é muito difícil. Duas psicologias diversas, estrutura anterior de família, educação antagônica.
                   Lembro-me, com uma saudade infinita, da casa-sede da Fazenda “São Sebastião”, no Bairro dos Costa. À noite, fechadas as portas e as janelas, nos reuníamos para escutar nossos pais. Eles trabalhavam o dia todo. Antes de irmos dormir, ouvíamos suas histórias e conselhos.
                   Pouco antes da Segunda Grande Guerra Mundial, nosso pai adquiriu um aparelho de rádio. Era uma objeto de madeira, com válvulas, ondas curtas e longas. Custou um conto de réis, uma fortuna. Então, mudou a rotina. Ouvíamos noticiário, música e outros programas. Uma
novidade fantástica. Recordo-me bem do dia em que o Presidente Getúlio Vargas declarou guerra aos países do eixo. Seu discurso foi vibrante. Lamentei não ser homem feito para matar alemães, japoneses e italianos. Meu pai revidou dizendo que eu não poderia imaginar o que fosse uma guerra.
                   Àquela época, por volta de 1942, já era exímio atirador.
                   A grande ufania, a marca de minha existência, foi constituir-
me segurança de meu pai.


                                21. A RAMALHADA


                   Ramalhada – Grande porção de ramos.
                   Ramalhar – Agitar ou sacudir os ramos.
O Sítio “São Benedito”, então, do pessoal da Ramalhada, localizava-se no Bairro das Tabaranas de Baixo, município de Serra Negra, Estado de São Paulo. Cinqüenta alqueires de terras, antiga propriedade de Maria Antonia das Dores, viúva de meu bisavô paterno, José Prisco da Cunha, que se casou, em segundas núpcias com Antonio da Silva Ramos e morreu por volta de 1906. Do primeiro matrimônio nasceram dois filhos: Claudino e Francisco, meu avô. Vieram de São José dos Campos, em 1872, formaram cafeeiros, já com a experiência do Vale do Paraíba.
Maria Antonia das Dores era mulher enérgica e possessiva. Trazia, atreladas ao seu sinto, todas as suas chaves da propriedade. E dominava seus filhos.
Claudino, já moço, engravidara Maria Rita. Nasceu o filho Valêncio. O pai foi ao Cartório e, através de escritura pública, reconheceu o filho. Sua genitora se encontrava, em viagem, em São José dos Campos. Quando voltou, soube dos fatos. Folhas adiante, no mesmo livro, está registrada nova escritura revogando o contido na anterior. E o mancebo diz que sua
mãe, Maria Antonia das Dores, voltando de viagem, não concordara com o reconhecimento.
Examinei, nos livros antigos do Notário, esses sucessos. Então, entendi porque meus parentes gostavam de ramalhar.
Nos meus tempos de menino, meu pai costumava me advertir sobre seus primos. Dizia-me que mantivesse distância deles, eram muito encrenqueiros. Sendo um garoto também encrencado, o efeito foi inverso, sempre tive fascínio por eles. Ao ouvir suas histórias, prestava-lhes muita atenção. Solvia cada palavra. Aprendi até imitar seu modo característico de falar. E sempre agi às claras, diante deles. Sentiam-se felizes e orgulhosos de minhas maneiras. Passei a gozar da simpatia geral.
Minha tia Salomé, esposa e sobrinha do tio Porfírio, era uma mulher bonita, inteligente e culta. Morreu aos noventa anos de idade. Sempre a visitei. Muito especiais nossos colóquios quanto aprendi, com ela, boa parte do que tenho escrito sobre nosso antepassado Bispo, me contou, nas tardes, nas redes da varanda. Preparava-me café e bolinho de chuva. São múltiplas minhas saudades. As horas passavam e minha curiosidade mais se aguçava. Contista inata. Lamento, até hoje, nossa separação, com sua morte, em Campinas.           Dos primos de meu pai, o convívio maior foi com o Claudino e o Walter. Claudino neto do outro. Os dois passaram a se odiar pela existência à fora.
Ambos tiveram sua importância, respectiva.
Houve uma época, após a venda da Fazenda “São Sebastião”, que passava minhas férias, uns tempos na residência do Walter, outros na do Claudino. Vinham amigas de meus parentes de Campinas, quando envidava um relacionamento amoroso com uma ou outra jovem, que lá aparecia. Era uma festa, nos divertíamos muito, dentro das limitações da época. Mais vontade que ação. Não destacarei nomes, evitando constrangimentos. Contudo, foi muito bom. Íamos nos banhar numa cachoeira. Contenção de desejos, quase irrefreáveis, reprimidos, de ambas as partes.
Voltando no tempo... Aos meus nove anos de idade, ia com meu pai visitar os parentes. Ao adentrarmos à propriedade, era invariável, meu genitor me dizia: “as terras do papai são excelentes, mas este trecho de meu tio tem as melhores terras do município”. Ouvi, aquelas assertivas inúmeras vezes. Até que, numa manhã, disse: “um dia, esta merda, será minha”. Ele me reprimiu, não gostava de impropérios. Entretanto, complementou, “será muito difícil, meus parentes são umas pestes, todavia, Deus lhe ajude”. Deus me ajudou, chegou o dia, comprei boa parte da propriedade e, exatamente, naquele ponto, onde conversamos, construí uma casa, um pomar, cocheira para cavalos de raça e tanques de peixes, onde muito pescávamos. Mais tarde, quando voltei de Coimbra, Portugal, vendi a propriedade. Porém, foi minha!...
De tudo, ficou a lembrança, saudade de um passado irrecuperável. Meus parentes me fazem falta. Fazem-me muita falta. Já na idade adulta, em muitas tardes, exausto, ia visitar um de meus primos. Sempre fui bem recebido, lhes levava um bolo ou outro presente. Nunca chegava sem um jornal do dia. Sequiosos de novidades, narrava-lhes as últimas informações. Eram cultos, trocávamos impressões sobre a política local, no País e no exterior. Mostravam-me documentos antigos, inclusive, pareceres de Leonardo Pinto da Cunha, pai do José Prisco da Cunha, Juiz de São José dos Campos, por volta de 1832.
Sempre tínhamos o que conversar. Diálogo inflamado, rico em detalhes e informações.
Hoje, envelheci, restam-me saudades imensas, renembranças de um passado, que se perdeu por detrás da poeira levantada pelo galope dos anos.
Registro estes sucessos, em crônicas esparsas para que, quem sabe daqui a muitos anos, um dos meus descendentes, desligado da existência material escreva sobre o pretérito. Em outro plano espiritual, o acompanharei para que se entenda que a captação de idéias é a arte soberana do culto ao Sumo Belo, Deus. Entidade, da qual fazemos parte.
O que restou da família Ramos é quase nada. Não há expressões. Resta-me relembrar cada momento daqueles tempos felizes de nossas existências