terça-feira, 11 de janeiro de 2011

CONFITEOR I - CONTINUAÇÃO

37. RUA DIREITA
                   Até 1674 chamou-se “direita que vai para Santo Antonio”. Em princípios do século XVII já existiam sobrados na então “rua Direita da Misericórdia”. Nessa época era hábito das mulheres envolver-se em baeta (pano de lã) ao sair de suas casas.
                   No ano de 1775 o Governador proibiu tal uso, tendo em vista que muitas mulheres, com o rosto vedado, adentravam, mesmo durante o dia, em casas de homens e, também, porque criminosos assim se disfarçavam.
Em 1897 o nome dessa rua foi substituído por Floriano Peixoto, pela Câmara, porém, em 1899, voltou à sua denominação.
                   Segundo o professor Mário Jorge Pires, “rua Direita, que é tudo menos direita, não foi maluquice dos vereadores. Direita que queria dizer que a rua ia direto de um ponto a outro” (chamava-se Rua Direita de Santo Antonio).
                   Manuel Rodrigues Ferreira, presidente da Academia Paulista de História, afirma que vem estudando o assunto e chegou à seguinte conclusão: “Rua Direita ficava na cidade de Damasco e onde Saulo permaneceu após a sua visão. A história é contada no Novo Testamento, no Livro dos Atos 9:11. Em Portugal, desde a Idade Média o fervor religioso começou a dar o nome de Rua Direita a vias públicas. Assim, em Coimbra existe a Rua Direita que começa na Câmara Municipal e é completamente torta, mais do que a nossa. Em Lisboa, existe a Rua Direita de São Paulo. Mas os povoadores portugueses logo após o Descobrimento, em 1500, começaram a trazer essa tradição para as vilas e cidades do Brasil.
                   Assim, no Guia Postal Brasileiro da ECT, de 1985, em 74 cidades, das 76 pesquisadas, 9 ainda possuem uma Rua Direita: Goiânia, São Luís do Maranhão, Recife, Nova Friburgo, Nova Iguaçu, Mauá, Mogi das Cruzes, Osasco e Presidente Prudente. E 15 possuem Rua Damasco, incluindo a capital, que tem duas. Sem contar as São Paulo. Assim, aqueles três elementos relatados na visão de Saulo são comuns: Rua Direita, Damasco e São Paulo (Saulo). Grande número de cidades do Brasil trocou o nome ua Direita por outro”. (artigos publicados no Jornal da Tarde, nas edições de 7 e 11-01-1998).
                   José Bonifácio de Andrada e Silva, Patriarca da Independência, nasceu em Santos, na Rua Direita, uma das treze ruas existentes na Vila, em 1763. A rua Prudente de Moraes, de Serra Negra, já se chamou Direita.


38. O PRIMEIRO CIVILISTA NO BRASIL

                  Francisco Justino Gonçalves de Andrade se notabilizou, sendo considerado o primeiro civilista brasileiro. Entretanto, nascera na Ilha da Madeira, Portugal, na freguesia do Campanario, em 18 de fevereiro de 1821. Morreu na cidade de São Paulo, em 25 de julho de 1902.
                  Aos dezoito aos de idade veio para Brasil, na tentativa de fazer fortuna. Entretanto, percebendo que sua vocação não era o comércio, matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, mercê dos conselhos recebidos de seu tio, Dom Manoel Joaquim Gonçalves de Andrade, bispo daquela diocese, que havia cursado Direito na Universidade de Coimbra.
                  O curso acadêmico de Francisco Justino foi revelação de extraordinário talento, alcançando os mais brilhantes triunfos, concluída, em 1850, sua formatura em ciências jurídicas e sociais. No ano seguinte defendeu tese e recebeu o doutoramento, tendo pouco depois, num concurso público, que ficou célebre e em que foi o primeiro classificado, sido nomeado lente substituto e mais tarde lente catedrático da Faculdade, em que fora um dos mais estudiosos e distintos alunos.
                  Foi como lente da cadeira de Direito Civil que verdadeiramente se notabilizou, sendo considerado o primeiro civilista do Brasil, de seu tempo. Suas preleções como professor, as consultas, que de todas as partes do Brasil lhe eram dirigidas, o alto conceito, que dele formavam os mais abalizados jurisconsultos brasileiros e ainda o fato de haver sido nomeado membro da comissão encarregada de dar parecer acerca do projeto do Código Civil, elaborado pelo ilustre jurisconsulto Dr. Felício dos Santos, provam que Dr. Justino possuía os requisitos indispensáveis de talento e de saber para ter deixado uma obra perdurável e em que, de maneira mais eloqüente, afirmasse os dotes notáveis de seu espírito privilegiado e de sua vastíssima erudição.    
                  Não tendo militância política, jamais adotou partidarismo, todavia, era amigo pessoal de D. Pedro II, de quem foi Conselheiro. Com o advento da República foi destituído do cargo de diretor da Faculdade de Direito, sendo em seguida jubilado de professor. Incinerou os originais de suas obras, permanecendo o saber e a mensagem ao seu discípulo RUI BARBOSA, o maior civilista deste País.


39. DEÃO ANTONIO JOAQUIM GONÇALVES DE ANDRADE

                  Nasceu na Ribeira dos Melões, na Quinta Grande, em 7 de dezembro de 1795, ordenando-se de presbítero, em 1821. Foi cônego da Sé de Funchal. Em 1834 era secretário de D. Francisco Rodrigues de Andrade, quando este prelado emigrou para a Itália. Com outros eclesiásticos, acompanhou seu superior hierárquico, quando estabeleceram residência nos arredores de Gênova.
                  Com o falecimento do bispo, fixou residência em Lisboa. Chamado para a Madeira em 1844, pelo prelado da Diocese, D. José Xavier de Cerveira e Souza, para o auxiliar nos debates com Roberto Kalley e seus sequazes protestantes.
                  Antonio Joaquim deixou o cultivo das letras, o convívio com destacados literatos, estabelecendo sua residência junto ao prelado, prestando os mais relevantes e assinalados serviços. Em 1846 foi nomeado vigário geral do bispado e, em 1853, Deão da Catedral.
                  Quando chegaram à Madeira, em 1852, a imperatriz D. Amélia e sua filha, a princesa D. Maria Amélia, foi nomeado seu capelão e confessor, servindo-lhe de secretário. Assistiu aos últimos momentos da princesa, de quem gozava da mais subida consideração, profunda e respeitosa estima. Em companhia do Dr. António Luz Pita, auxiliou a Imperatriz na fundação do Hospício e instalação provisória do hospital para tuberculosos, antes da construção da casa suntuosa, onde atualmente se encontra.
                  O Deão Andrade acompanhou os despojos mortais da princesa D. Maria Amélia, em 1853, para Lisboa, ali fixou sua residência, continuando no serviço da Imperatriz.
                  De raro talento e vasta cultura intelectual, gozando de muito prestígio e consideração, pelos dotes de espírito e qualidades de caráter. Seu convívio em Lisboa foi com luminares das letras e vultos políticos proeminentes, mercê de suas virtudes, saber e encantadora lhaneza de trato.
                  Revelou-se escritor de largos méritos nas notas, que escreveu para a tradução dos Fastos, de Ovídio, feita por Castilho e, também, nas anotações, que adicionou à edição da História Insulana, de António Cordeiro, publicada em 1862.


40. A FREGUESIA DA QUINTA GRANDE

                  É uma das cinco freguesias do Concelho de Câmara dos Lobos. Criada em 24 de julho de 1848, pelo desmembramento de alguns sítios da Freguesia de Câmara dos Lobos e do Campanário, cuja sede é a Capela de Nossa Senhora dos Remédios, elevada à categoria de Curato em 8 de fevereiro de 1820. Possui uma área de 4,19 quilômetros quadrados e uma população de 1976 habitantes. Sua riqueza econômica provém da agricultura e construção civil. A Este, limita-se com a Freguesia de Câmara dos Lobos, a Oeste, com a Freguesia do Campanário, ao Sul, com o oceano Atlântico e Freguesia do Campanário, limites muito próximos aos que existiam na altura de seus primeiros proprietários.
                  Primeiramente, chamou-se Quinta do Cabo Girão, propriedade do donatário João Gonçalves Zarco. Seu segundo donatário foi seu filho João Gonçalves Câmara, de quem descende Dom Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, consoante seu escudo.
                  São naturais da freguesia da Quinta Grande: o bispo Dom Mateus de Abreu Pereira, nascido em 8 de agosto de 1742, na Ribeira dos Melões e falecido em São Paulo, em 5 de março de 1824; Dom Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, nascido em 14 de março de 1867 e falecido em São Paulo, em 26 de maio de 1847; do Campanário: Deão Antonio Joaquim Gonçalves de Andrade, nascido em 7 de dezembro de 1795 e falecido em Lisboa, em 16 de janeiro de 1865, com seus restos mortais trasladados para o Funchal; Padre Antonio Silvino Gonçalves de Andrade, nascido em 12 de setembro de 1822 e falecido em 4 de março de 1902, em Câmara dos Lobos, no sítio do Caminho Grande e Preces, onde na altura residia; Doutor Francisco Justino Gonçalves de Andrade, nascido em 18 de fevereiro de 1921 e falecido em São Paulo, em 25 de janeiro de 1902; Padre, Deputado e Doutor João Jacinto Gonçalves de Andrade, nascido em 10 de fevereiro de 1825 e falecido em São Paulo, em 18 de janeiro de 1898.


41. CÔNEGO E DEPUTADO DOUTOR JOÃO JACINTO GONÇALVES DE ANDRADE

                  Nasceu na Freguesia do Campanário, em 10 de fevereiro de 1825. Era filho do tenente Francisco Joaquim Gonçalves de Andrade e de Dona Caetana Maria de Macedo. Frequentou o Seminário de Funchal, ordenando-se presbítero. Embarcou para o Brasil, onde era bispo seu tio. Dom Manoel Joaquim Gonçalves de Andrade, em São Paulo e onde era lente da Universidade de São Paulo seu irmão, o Conselheiro Francisco Justino Gonçalves de Andrade.
                   Primeiramente, fixou-se em Vassouras, Província do Rio de Janeiro, onde residiam suas irmãs, inclusive, Maria Emília Gonçalves de Andrade, que veio para o Brasil com nove anos de idade, desembarcara no Rio de Janeiro, enquanto seu primo Francisco Mendes Gonçalves, de catorze anos de idade, seguiu para Buenos Aires, no mesmo navio, vindo de Funchal. Foi morar com suas irmãs, casadas com comerciantes portugueses. Já mocinha, na Barra do Piraí, conheceu o açoriano João Augusto Pereira de Lacerda, casando-se em Vassouras. Dessa união, nasceu Sebastião de Lacerda, que estudou na Universidade de São Paulo e foi ministro do Supremo Tribunal, pai de Maurício de Lacerda e avô de Carlos Lacerda, notável jornalista e político brasileiro.
                   Em A Casa de Meu Avo, décima segunda obra de Carlos Lacerda, considerada sua obra prima, o ilustre escritor, jornalista e político dedica páginas destacadas ao seu tio-bisavô, Dom Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, quando menciona um relógio, com o qual Domitila de Castro, a Marquesa de Santos, presenteara o íntimo amigo. Tiveram um relacionamento, quando este era imediato de Dom Mateus, precedendo ao Imperador, D. Pedro I. Menciona encontrar-se o relógio com sua prima Dulce, que reside na Praça da República, em São Paulo.
                   O padre João Jacinto, quando exercia as funções de seu ministério, ao proceder um sermão da Sexta-Feira da Paixão na matriz de Vassouras, pregou com tanta eloquência que uma crioula beata, que se postava bem próximo ao púlpito, começou a chorar baixinho. Diante da narrativa do suplício de Jesus, o sofrimento e o pranto de Maria Santíssima no calvário, as trevas caídas sobre o mundo, a carola passou do pranto aos berros. E lamentava tanto o episódio de Jerusalém que o padre João Jacinto, para prosseguir, teve de interromper o sermão, dirigiu-se paternalmente, dizendo: não precisa chorar assim, minha filha. Isso tudo foi há tanto tempo! E sabe lá se é verdade?”
                   Atendendo a conselho de seu irmão, Conselheiro Francisco Justino Gonçalves de Andrade, matriculou-se na Universidade de São Paulo e nela se doutorou. Participando de concurso para uma das cadeiras, foi nomeado lente, onde exerceu o magistério até o ano de 1891, quando se jubilou.
                   Jamais abandonou suas funções eclesiásticas, não obstante haja sido brilhante deputado provincial.


42. ARRUAMENTO DOM MANUEL JOAQUIM GONÇALVES DE ANDRADE

                   Por deliberação camarária, de 9 de julho de 1998, a Quinta Grande passa a ter um arruamento com o nome do Bispo Dom Manuel Gonçalves de Andrade. Corresponde este arruamento a um seguimento da antiga estrada real 23, no seu trajeto pelo centro da Quinta Grande, estendendo-se entre a estrada Profa. Alice do Carmo Gonçalves de Azevedo Pereira e a estrada João Gonçalves Zarco, passando junto à Igreja Matriz.
                    Na sequência dos fatos, tivemos notícias da personalidade ilustre de Dom Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, revelações de sua passagem, há dois séculos. Soubemos de suas origens e a realidade de uma existência fantástica, com início em 14 de março de 1767, na Freguesia de Campanário, na Quinta Grande, no lugar das Amoreiras, Ilha da Madeira, Portugal. Chegou ao Brasil em 1797, assumiu a direção do bispado em 23 de dezembro de 1827, com término em 26 de maio de 1847. Portanto, veio aos trinta anos de idade, foi sagrado bispo da cidade e Província de São Paulo aos sessenta, vindo a falecer aos oitenta. Há uma cadência do número sete, eis que nossos netos pertencem à sétima geração.
                   Seu filho, também, chamou-se Manuel Joaquim, sua neta, Ana Cândida de Andrade e a filha dela, minha avó, Amélia Augusta de Andrade; meu pai, Olympio. Assim se estende toda uma romaria repleta de sonhos, impregnada de amor, passível de profundas reflexões. Foram-me reservados os desígnios da narrativa, tarefa dos últimos cinquenta e sete anos, quando do encerramento, haverá de coincidir com o término de minha efêmera e conturbada existência.
                   Dedico estas páginas à minha bisneta Mariana. Esta haverá de transmitir, às gerações adventícias, a saga de nossa família, emoldurada por coragem inquestionável.
                   Meu avô paterno, o Capitão Francisco Pinto da Cunha, veio do Vale do Paraíba, aos dezoito anos de idade, participar da introdução do plantio do café no município de Serra Negra. Voltou à São José dos Campos para se casar com Amélia Augusta de Andrade.
                   O café entrou no Brasil via Guiana Francesa. Do Pará migrou para o Rio de Janeiro e Vale do Paraíba, onde a qualidade da terra não era das melhores. Daí a “Marcha para o Oeste” (do Vale do Paraíba). Veio para a região de Campinas, alcançando Serra Negra e cidades circunvizinhas.
                   Era chamado Chico Ramos, decorrente de um segundo casamento de sua mãe, Maria Antonia das Dores. Aos sete anos de idade perdera o pai, vítima de acidente. Sua mãe uniu-se, em segundas núpcias, com Antônio da Silva Ramos.
                   Adquiriu terras no Bairro dos Costa, formou cafezais, prosperou extraordinariamente. Pelo seu bom nível intelectual,  sendo muito trabalhador e liberal, conquistou popularidade. Ao lado do Cel. Pedro Penteado, fundou o Diretório do Partido Republicano Paulista em Serra Negra, instituindo o jornal O SERRANO, com seus recursos pessoais. Foi vereador à Câmara Municipal, Intendente, Prefeito, enfim, chefe político durante quarenta anos. Não obstante abastado fazendeiro, morreu pobre, quando suas propriedades foram à praça. Deixou, entretanto, um nome honrado, herança insuperável. Herdamos sua vontade férrea, mola de nosso transporte. Somos, hoje, uma família de intelectuais, austeros e destemidos. Acostumados a enfrentar poderosos, ninguém nos amordaça.
Quando D. Afonso I cercava Lisboa, D. Payo Guterres mandou meter várias cunhas na muralha do Castelo e por elas subiu com os seus, concorrendo com este ato de heroísmo para a tomada da cidade. Consta que foram nove esses heróicos guerreiros e outros tantos têm os Cunha por irmãos. Deu-lhes, então, o rei com o direito de usar por apelido Cunha, em prêmio do feito por eles praticado.
                   Feliciano Pinto Coelho da Cunha chefiou a Revolução Liberal em Minas Gerais. Um dos fundadores de São João Del Rei era Cunha. Ainda hoje, lá reside um contingente de Pinto da Cunha.
                   Francisco Pinto da Cunha Leal foi reitor da Universidade de Coimbra, ilustre escritor e político português.
                   Pinto Bronze, um dos maiores filósofos da cultura portuguesa, foi meu Mestre na Universidade de Coimbra.
                   Evidencio estes nomes para que sirvam de exemplo aos meus.


43. PORTUGAL NO BRASIL

Existe um elo muito forte entre o Brasil e Portugal. Ligação não apenas oriunda das relações políticas entre a metrópole e a colônia, mas também de acentuado vínculo psicológico e cultural estabelecido na sucessão dos séculos.
A vocação natural brasileira nasceu, necessariamente, da cultura portuguesa, da mesma maneira que, em verdade, os valores brasileiros iniciais eram dos portugueses. Essa influência moral impregnou não somente nosso cerne cultural e valorativo, porém, arraigou-se na estrutura política do Brasil, vez que a maioria dos dirigentes nacionais, formadores da consciência política brasileira, frequentaram a célebre Academia Coimbrã.
De tudo se deduz que o Brasil, já em sua origem, localizava-se, geograficamente, na América, todavia, culturalmente, na Europa, preferentemente Portugal. Somaticamente brasileiro, com alma portuguesa.
A História de Portugal será sempre incompleta sem as narrativas de seus episódios no Brasil. Não diria seja o Brasil prolongamento de Portugal, contudo, de única e exclusiva identidade. Evidentemente, falo como português nascido no Continente Americano. Em minhas origens, pelo conduto materno, sou trasmontano de Chaves, eram Pires e Pinto da Fonseca meus avós. Naquela região nórdica deixaram suas quintas, não volvendo revê-las, eis que conquistaram largas herdades em Serra Negra, Estado de São Paulo, guardando imensa saudade de seu Portugal, terrinha tão querida.
Pelo ângulo paterno, estivemos em Portugal quando, com D. Afonso I, cercamos Lisboa e, sob as ordens de Payo Guterres, metemos cunhas nas muralhas do Castelo e as transpusemos com o batismo de Cunha.
Meu progenitor paterno se chamou Francisco Pinto da Cunha; em Portugal, pontificou Francisco Pinto da Cunha Leal, intelectual, Reitor da Universidade de Coimbra e político destacado.
Minha progenitora paterna chamou-se Amélia Augusta de Andrade, descendente direta de D. Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, nascido no Campanário da Ilha da Madeira, do tronco de Zargo, dos Andradas Câmaras (dos Lobos). Hoje, o monumento ao Primeiro Povoador, estátua de Zarco de autoria de Francisco Franco, de uma beleza original de concepção, ergue-se no encontro das avenidas Arriaga e de Zarco.
D. Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, estudou em Coimbra, frequentou os mesmos compartimentos do Palácio Real, onde cursei o Mestrado e reinaram nossos antepassados, somos descendentes de Gonçalo Fernandes, filho de Afonso V e Joana, a “Excelente Senhora”.
Daí a razão pela qual se legitima nossa “saudade antropológica”.


44. DOM PEDRO PRIMEIRO


                   Em Portugal chamou-se IV – O Rei Soldado. Aos nove anos de idade embarcou com destino ao Brasil. Em 1822 proclama a Independência do Brasil . No mesmo ano é proclamado Imperador. Em 1828, D. Miguel consegue ser proclamado Rei de Portugal. D. Pedro vê-se obrigado a resgatar a coroa portuguesa. Reúne forças militares no Açores, com apoio da França e da Inglaterra e desembarca no Porto, apanhando de surpresa as forças absolutistas. Inicia-se uma guerra civil, dura dois anos, com a derrota de D. Miguel, em maio de 1834. D. Pedro veio a falecer no mesmo ano.

                   Com a morte do pai, o exílio de D. Miguel, D. Maria é aclamada rainha, aos quinze anos de idade. Aos dezesseis, casa- com o irmão da madrasta, Augusto de Leuchtemberg, que morre após dois meses. Passado um ano casa-se com Fernando de Saxe-Coburgo Gotha, resultando onze filhos. Reinou até 15 de novembro de1853, com 34 anos de idade, quando morreu ao dar à luz seu décimo primeiro filho.

                   No reinado de d. Maria II realizaram-se reformas importantes. Tornou-se obrigatória e gratuita a instrução primária. Foram criados os liceus distritais, as Escolas Politécnicas de Lisboa e do Porto, o Conservatório Nacional e o Instituto de Agronomia. Foi construído o Teatro Nacional em Lisboa, que adotou o nome da rainha. Foram introduzidos os selos postais nos Correios, á semelhança do que já acontecia na Inglaterra. Era filha de D. Leopoldina, tia de Maximiliano de Áustria, Imperador do México, que morreu em Serra Negra.

                   Com a morte de D. Maria II, seu filho D. Pedro, contava com 15 anos de idade. Até sua maioridade, 18 anos, o governo foi assegurado por seu pai D. Fernando, na condição de regente do reino. D. Pedro V, sem descendência, morreu em 1861, quando sobe ao trono seu irmão, D. Luís, até 1889, quando é sucedido por seu filho D. Carlos. Em primeiro de fevereiro de 1908, um atirador dispara e atinge de morte o Rei. Um outro homem dispara sua carabina e mata o príncipe d. Luís Felipe, ascendendo ao trono seu irmão, D. Manuel II. Seu reinado durou apenas dois anos. Em quatro de outubro de 1910 é proclamada a queda da monarquia e implantada a República Portuguesa. D. Manuel II abandona Portugal, com destino ao exílio na Inglaterra, onde morreu em 2 de julho de 1832.


45. CREPÚSCULO

                   Eram duas horas da tarde de vinte e seis de fevereiro de 1846. D. Pedro II e sua comitiva, inclusive a imperatriz Teresa Cristina chegavam ao Largo da Glória. Junto à Santa Casa fora montado um arco de flores e folhas, representando o portal da cidade de São Paulo, capital da Província. Para recepcionar, encontravam-se o Bispo Dom Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, octogenário, demais autoridades e o povo. Salva de vinte e um tiros de canhão e o presidente da Câmara entregou a Sua Majestade a chave da cidade, de prata, com relevos de ouro.

                   Os carros de boi atravancavam as ruas da cidade. Vinham da área rural. Ida Pfeiffer, uma austríaca em visita, nesse mesmo ano, observou: “Os eixos de madeira de tais carros, não são nunca azeitados, o que produz uma música infernal”. Estacionavam nos largos São Gonçalo, hoje, Praça João Mendes, São Francisco e São Bento. Outras vezes, tropas de burros tomavam as ruas. Os serviços públicos, ainda precários. Desde 1829, havia iluminação pública. Insuficiente, assim foi descrita: “Uma enorme geringonça de ferro, pregada na parede de uma esquina, estendia por cima da rua um longo braço, em cuja extremidade estava dependurado um lampião. Colocados de longe em longe nas ruas principais, a luz desses lampiões, alimentados com azeite de peixe, difundia uma claridade mortiça, que só iluminava um pequeno espaço, projetando longas sombras movediças, quando o vento balançava os lampiões”.

                   Dom Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, durante meio século, catalisara as atenções da população paulistana. Em consonância às suas atividades religiosas, era político e fazendeiro. De fino trato, egresso da Universidade de Coimbra, era orador fluente. Bem relacionado, Conselheiro de D. Pedro I, vinha de família de estirpe. Descendia de Afonso V e  João Gonçalves Zarco, primeiro povoador da Ilha da Madeira. São naturais da Quinta Grande: o bispo Dom Mateus de Abreu Pereira, Deão António Joaquim Gonçalves de Andrade, Padre António Silvino Gonçalves de Andrade, Doutor Francisco Justino Gonçalves de Andrade, primeiro civilista no Brasil, Conselheiro de D. Pedro II, Padre, Deputado, Professor e Doutor João Jacinto Gonçalves de Andrade.
                   Em nove de julho de 1998, a Quinta Grande passa a ter um arruamento, denominado Bispo Dom Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade. Corresponde este arruamento a um seguimento da antiga estrada real 23, no seu trajeto pelo centro de Quinta Grande, estendendo-se entre a estrada Profa. Alice do Carmo Gonçalves de Azevedo Pereira e a estrada João Gonçalves Zarco, passando junto à Igreja Matriz.

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