segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

CONFITEOR I - CONTINUAÇÃO

 Arouche.-

             Em 1811 o tenente-coronel José Arouche de Toledo Rendon (cognominado o Marechal) aplainou o terreno denominado “praça da Legião”, para exercícios militares; demarcou e arruou a chamada “Cidade Nova”.
Arouche Rendon era doutor em Direito, formado em Coimbra e foi o primeiro diretor da Academia de Direito. Em sua chácara plantou chá, introduzindo-o em São Paulo. Faleceu, em 1834. Tinha uma filha, Maria Benedita, nascida três anos antes de seu casamento, com Maria Teresa Rodrigues de Moraes, era filha natural.
            Maria Benedita casou-se co o Dr. Prudência Cabral, mas no dia seguinte já estavam separados. O casamento foi anulado pela Igreja, com audiência do Papa.
            Arouche Rendon tinha sete irmãs, solteiras, que moravam numa travessa da rua Imperatriz e pela razão das janelas da casa serem pintadas de verde, eram denominadas “as meninas da casa verde”.
Largo do Piques era o ponto de encontro de tropeiros, em caravanas.
             Em 1774 os frades do Convento de São Francisco construíram um chafariz, dotado de duas bicas, com cano de bronze. A água vinha de duas fontes, que brotavam do interior do convento. O chafariz ficou pronto em 1775.
            A Pirâmide do Piques, em forma de obelisco, foi erigida em 1814, é o mais antigo monumento da cidade de São Paulo.
             Ponte do Piques - ficava sobre o rio Anhangabaú. Por volta de 1790 fora mandado construir, pelo   Capitão-general Bernardo José de Lorena.
            O Palácio do Governo fica no Pátio do Colégio.
            A Câmara Municipal fica na rua das Casinhas.
            No Pátio do Colégio existiu um sobrado, onde se instalou a Casa da Fundição. O Teatro da Ópera, primeiro teatro público de São Paulo, funcionava no prédio, que fora a Casa da Fundição. Era construído de taipa, com paredes de barro, iluminado com velas e possuía 28 camarotes. Ali se comemorou a Proclamação da Independência.
            “Pari” - cerca de taquara ou cipó, de margem a margem, para pesca de peixes.
             Durante o período colonial as pessoas, que caminhavam do Ipiranga para o centro da cidade, antes de chegar à rua da Glória, paravam para lavar os pés, ao atravessar um córrego, daí porque, a continuação da rua da Glória ficou sendo “do Lava Pés”.
            Em 1828 tiveram início os primeiros ensaios de iluminação, através de gás. Os primeiros lampiões eram uma geringonça de ferro, pregada na parede de uma esquina, estendia por cima da rua um longo braço, em cuja extremidade estava pendurado um lampião.
            Brigadeiro Luís Antonio, nasceu em Portugal 1766. No Brasil assentou Praça, em 1786. Em 1818, foi reformado no posto de Brigadeiro, quando passou a trabalhar no transporte de mulas. Seu irmão solicitou-lhe que deixasse de usar o nome Queiroz, família portuguesa de destaque. Atendendo o irmão, tornou-se riquíssimo.
            Brigadeiro Raphael Tobias de Aguiar - foi Presidente da Província de São Paulo, nos períodos de 1831 a 1835 e 1840 a 1841. Junto do Padre Feijó chefiou a Revolução Liberal em São Paulo. Casou-se com Domitila de Castro em 1842, quando residiu em Sorocaba. A casa, onde residiram, ainda existe no Bairro Brigadeiro Tobias.
            Assembléias Legislativas Provinciais. Foram criadas em 1834. Em São Paulo, veio a funcionar no pavimento superior do Palácio do Governo, localizado no Pátio do Colégio.
            Cemitério Público. O primeiro, da cidade de São Paulo, ficava na rua da Glória.
            Espinhaço do Araçá. Araçá - do idioma indígena, significa, “chapada”.
            Frei Caneca. Participou da “Confederação do Equador” e foi condenado à morte. Os carrascos se negaram ao seu enforcamento, sendo fuzilado. Seu nome era Joaquim do Amor Divino Caneca. Caneca, porque seu pai era taberneiro e fora apelidado “Caneca”.
            Largo da Forca. O governador Martim Lopes Lobo de Saldanha tinha um filho, que numa briga com Francisco José das Chagas, corneteiro da Legião de Voluntários Reais, fora ferido. O governador mandou enforcar o Chaguinhas. A corda se arrebentou e substituída, esta também não suportou; a terceira, teve a mesma sorte. O carrasco teve de se servir de um laço de couro cru, tomado por empréstimo a um tropeiro que passava.
            Jardim Botânico. Início da construção em 1799, com término em 1825 (Jardim da Luz).
            Quatro Cantos , cruzamento das ruas Direita e São Bento.
            Porto Geral (Ladeira). No fim da Ladeira Porto Geral havia um porto, para se atracarem as canoas vindas do rio Tamanduateí. Era chamada “Beco do Barbas”.
            Bairro do Brás. José Braz possuía uma chácara à margem da estrada geral, em direção à Penha.
Praça da República (Praça das Milícias). Em 1817 passou a se denominar “Largo dos Curros”, porque lá se realizavam touradas.
            Solar da Marquesa. Casarão construído por André Álvares de Castro, em 1739. Mais tarde foi comprado por Domitila de Castro.
            Rua Tabatinguera. Por volta de 1773, a baixada da Tabatinguera era ponto de passeio dos pedestres. Banhavam-se no Tamanduateí que, também, servia para lavar roupas.
            Frei Galvão. Frei Antonio de Sant’Anna Galvão tornou-se famoso por ser humilde, piedoso e autor de vários milagres. Foi capelão da igreja de Nossa Senhora da Luz e faleceu em 23 de dezembro de 1822.  
            Tal a repercussão desses sucessos que, naquela época, inúmeras pessoas trocaram os apelidos de família pelo de “Galvão”, em obediência a promessas feitas por seus familiares. Conta-se que Manuel Fortes comandava uma monção, quando fora assassinado, a traição, com uma facada nas costas, por um de seus serviçais. Já extenuando, lamentava-se pelo fato de estar morrendo sem confissão, quando, em voz alta, chamava o Frei Galvão, que se encontrava ensinando catecismo, em São Paulo, ao seus meninos. Daí quando foi reconhecida a presença do sacerdote, que, ao aproximar-se do moribundo, deu-lhe a extrema-unção. Este milagre operou-se às margens do rio Tietê, cujas águas testemunharam o acontecimento.
            Largo São Francisco. Em princípios do século XVII foi construída a Igreja de São Francisco. O Convento foi inaugurado em 1647, sob a invocação de São Francisco e São Domingos, sendo que à direita desse templo encontrava-se a igreja da Ordem Terceira de São Francisco, com seus ricos altares e belíssimas imagens. Por exigência do governo imperial, o edifício do convento dos franciscanos, em 1828, foi desocupado para abrigar a Academia de Ciências Sociais e Jurídicas.
            Na esquina do antigo Convento de São de Francisco com o Beco da Santa Casa, existiu um chafariz, denominado “chafariz do Curso Jurídico”, recebendo, em 1831, o nome de “chafariz da Liberdade”, em regozijo à abdicação de Dom Pedro I, no dia 07 de abril.
            1812 - A “Casa do Trem” (depósito de munições) foi criada por volta desse ano, funcionando na rua Detrás do Quartel de Primeira Linha.
            1725 - Concessão de licença para a fundação da Igreja Nossa Senhora do Rosário.
            Casa Santa. Os frades franciscanos distribuíam alimentos aos pobres numa casa localizada atrás do 
            Convento, via denominada Rua da Casa Santa, hoje, Rua Riachuelo. Até 1812 era o "Beco da Casa Santa", com seu alargamento, passou a se denominar Rua da Casa Santa.
            Rua dos Bambus. Touceiras de bambus, em quintais, que margeiavam essa via, deram a denominação.
            Alameda, palavra de origem espanhola, via pública arborizada com "álamos".
            Rua Miguel Carlos. Francisco da Cunha Menezes, Governador da Capitania de São Paulo, no período de 1782 a 1786, mandou abrir uma rua no caminho que ia do canto da igreja de São Bento, até ao Campo da Luz, quando foi necessário tapar um buraco e se fazer um rego para escoar as águas pluviais.
            Em homenagem ao procurador da Coroa, Miguel Carlos Aires de Carvalho, chamou-se Miguel Carlos. Mais tarde, foi denominada Rua da Constituição, em referência à Constituição de 25 de março de 1824, outorgada por D. Pedro I.
            Em 1815, quando o Brasil, por ato de D João VI, foi equiparado a Portugal, as capitanias passaram a ser chamadas de províncias. A de São Paulo abrangia os Campos Gerais.
            O governador da Província, após a proclamação de Independência, de capitão-general, passou a ser denominado presidente, nomeado pelo Imperador.


                                   19. SÃO PAULO DE QUANDO CHEGOU DOM MANUEL.-


            Quase à virada do século, a cidade de São Paulo, contava com 21.304 habitantes, isto é, segundo o censo de 1798. Desde quando o Morgado de Mateus instituíra a contagem da população, tarefa realizada pelos oficiais das companhias de ordenança. Do total, 15.229 eram livres e 6.075 escravos. Entre os livres, eram 6.931 homens e 8.298 mulheres. Entre os escravos, eram 3.023 homens e 3.052 mulheres.

            Johan Mawe era um inglês interessado em geologia e minerologia. Nascera em 1764. Atracou no porto de Santos em 1807. Em 1812, em Londres, publicou Viagens ao interior do Brasil, preciosas informações sobre o Brasil. Vários estrangeiros, ingleses, alemães, franceses, escrevendo suas memórias e impressões, deixaram livros, relatando sua visão do país. Contudo, Mawe, cronologicamente, foi o primeiro.  Iniciou sua viagem antes da chegada de D. João VI e família. Esteve durante cerca de três meses em São Paulo, seguindo para outras partes do Brasil, voltando em 1811 para a Inglaterra.
            Em 1819 chega o francês Auguste Saint-Hilaire. Vem do lado oposto, chega de Goiás. Veio pelo arraial de Franca, Moji Mirim, Campinas e Jundiaí. Entrou em São Paulo em fins de outubro de 1819, época do calor e das chuvas, tinha 40 anos de idade. Era naturalista, professor de botânica no Museu de História Natural de Paris
            Viera para o Brasil com o duque de Luxemburgo, embaixador da França junto à corte de Portugal, instalada no Brasil. Os naturalistas nutriam ímpar curiosidade pelas espécies do Novo Mundo. Nessa época aqui estiveram Spix, Martius, Langadorff e outros. Seus motivos eram diversos dos de Mawe, mineralogista, comerciante em busca de oportunidade de negócio.
            Saint-Hilaire escreveu três livros sobre as plantas brasileiras, observou também nossa geografia e costumes. “Escrevia cada dia um diário minucioso do que se me oferecia à vista e aí consignava, na medida em que me permitiam meus conhecimentos, o que pudesse contribuir para dar uma idéia exata das zonas que percorria”. Desses diários resultaram nove volumes de narrativas de viagens e três livros científicos sobre as plantas do Brasil.

                                 20. AS ELEIÇÕES NO IMPÉRIO

               Pela Constituição Política do Império, outorgada por D. Pedro I, em 25 de março de 1824, não podiam ser votados os que não tivessem quatrocentos mil reis de renda líquida anual por bens de raiz, indústria, comércio ou emprego; os estrangeiros naturalizados; os que não professavam a religião do Estado.
            A Assembléia Paroquial era presidida pelo Juiz de Fora ou Ordinário, com a assistência do pároco.
            No dia marcado para as eleições paroquiais, reunido o povo na igreja matriz, celebrava, o pároco, missa do Espírito Santo. Terminada a cerimônia religiosa, colocava-se uma mesa no corpo da igreja, tomava o presidente, isto é, o Juiz de Fora ou Ordinário, assento à cabeceira dela, ficando ao seu lado direito o pároco. O presidente, de acordo com o pároco, propunha à assembléia dois cidadãos para secretários e dois para escrutinadores, que eram aprovados ou rejeitados, por aclamação. O Juiz de Fora ou Ordinário, o pároco, os secretários e os escrutinadores formavam a mesa da Assembleia Paroquial.
            As eleições eram controladas pelo Imperador, através dos Presidentes das Províncias e dos coronéis da Guarda Nacional.
            O resultado da eleição dependia da mesa eleitoral, encarregada da apuração dos votos e da elaboração das atas. Era a eleição “bico de pena”. “Feita a mesa, estava feita a eleição.


                                                     21.“IMPERIAL CIDADE”

            Era agosto de 1822, D. Pedro, com vinte e quatro anos incompletos, vindo do Rio de Janeiro, donde partiu em catorze de agosto, chega a São Paulo, pleno de energias. Já, na travessia do rio Paraíba, dispensa a balsa, junta nas esporas o cavalo e molha as vestes até a cintura. Escolheu um companheiro de seu porte, ordenando-lhe que cedesse a calça, já à outra margem do rio. O portuguesinho Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança Bourbon, que era príncipe regente e, dias depois, passaria para a História como D. Pedro I. Vinha com seu alcoviteiro, Francisco Gomes da Silva, o Chalaça, Francisco de Castro Canto e Melo e outros. Passando por Areias, Lorena, Guaratinguetá, Pindamonhangaba e Jacareí, sua comitiva foi engrossando pelos filhos de fazendeiros ilustres, chega ao arrabalde da Penha, avisando as torres das igrejas. À noite, mandou Chalaça e o Alferes Canto e Melo, assuntar sobre o clima político e estes constataram a “perfeita quietação” da cidade. No dia seguinte, ouviu missa na igrejinha da Penha e se pôs a caminho, quando foi recebido por Dom Mateus de Abreu Pereira, coadjuvado por seu sobrinho, Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade e outras autoridades. O povo o aclamava, quando de sua passagem e após doze quilômetros, o príncipe galgou a ladeira do Carmo, onde morava o bispo, em frente de cuja casa encontrou o primeiro dos arcos de triunfo armados em sua honra. O príncipe apeou do cavalo, pôs-se debaixo do pálio, estampado com o estandarte real e o cortejo real avançou em direção à Sé, com vivas e aclamações a cada passo. Na Sé, rezou-se um Te Deum. À noite, as casas se fizeram enfeitadas com luminárias nas fachadas. No dia seguinte, no palácio do pátio do Colégio, veio de ocorrer o beija-mão concedido. Exatamente, “concedia-se” o beija-mão à Câmara em primeiro lugar e após às demais autoridades. No dia seguinte, afluíram as delegações de Itu, Campinas e Sorocaba.
            Quando o príncipe se dispôs a passear, vinha a cavalo e se deparou com formosa dama, que havia sido um dos amores do padre Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade. D. Pedro, “como se sabe, era um femeeiro de primeira ordem, um tipo permanentemente abrasado pelo desassossego sexual. Apeou-se do cavalo, à vista da dama, e cumprimentando-a, elogiando-lhe a beleza. Iniciaram então um diálogo que, prometendo durar, fez com que os negros tirassem uns momentos de folga baixando a cadeirinha. A certa altura o príncipe, desinibido que era, levantou ele próprio a cadeirinha, ordenando a um guarda de sua escolta que segurasse na outra ponta. Como Vossa Alteza é forte, disse a dama. E o príncipe, galante, dispondo-se desde logo a servi-la a vida toda, e apontando para os escravos: Nunca mais Vossa Excelência terá negrinhos como estes. A dama em questão não é outra senão aquela que levará a fúria erótica do príncipe a suas culminâncias, ao longo de um relacionamento que durou anos, entristeceu de morte a legítima esposa, D. Leopoldina, e escandalizou o país pela maneira desavergonhada com que se exibia – Domitila de Castro Canto e Melo, a quem o homem que segurou-lhe a cadeirinha faria marquesa de Santos” (1)
Três meses após haver conhecido o amante, mudou-se para o Rio com toda a família. De se ressaltar que o Imperador engravidou sua irmã casada e aquinhoou seu marido com banesses.
            Domitila foi, esposa de Felício Pinto Coelho de Mendonça, meu parente pela linha paterna, cujo relacionamento terminou em facadas, namorou o Padre Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade, meu antepassado e se casou, também, com o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar.
(1) Roberto Pompeu de Toledo, em A Capital da Solidão, página 290.


                                          22. CRIAÇÃO DOS CURSOS JURÍDICOS


            Logo que se instalou a Assembléia Constituinte, em 1823, o Deputado José Feliciano Fernandes Pinheiro (depois Visconde de São Leopoldo) pleiteou a criação de um curso jurídico em São Paulo. A comissão de instrução pública ofereceu, porém, um projeto (19 de agosto) criando duas Universidades, uma em São Paulo e outra em Olinda, adiantando que em São Paulo haveria, desde logo, um curso jurídico, regido pelos estatutos da Universidade de Coimbra. Em 04 de novembro, foi o projeto votado em terceira discussão, sancionado e remetido à comissão de redação das leis. Entretanto, a malfadada lei de 04 de novembro saíra nas vésperas da dissolução da Constituinte. Antes que volvesse redigida para ser promulgada, esta deixara de existir. Durante a ditadura do Imperador, por decreto de 09 de janeiro de 1825, criou-se no Rio de Janeiro um curso jurídico, que nunca chegou, também, a funcionar. Instalada a Assembléia Legislativa, em 1826, tratou-se de restaurar o projeto da Constituinte, que só não era lei porque lhe faltava a solenidade da promulgação. Contudo, a comissão de instrução pública entendeu a necessidade de fazer coisa nova, considerando como inexistente quanto até ali se fizera; e apresentou, na sessão de 05 de julho, um projeto novo, criando um curso jurídico ou de ciências sociais, agora, no Rio de Janeiro. 
            Todavia, uma emenda ao projeto determinou que se fundassem dois cursos: um em São Paulo, outro em Olinda.
            A Academia de Ciências Jurídicas e Sociais da cidade de São Paulo, que fora criada em 11 de agosto de 1827, foi inaugurada em 1º de março de 1828, sendo seu primeiro diretor o Tenente-General Arouche de Toledo Rendon. Seus estatutos foram aprovados, por decreto de 07 de novembro de 1831. 
           Seu primeiro Inspetor foi Dom Manuel Joaquim Gonçalves de Andrade.
            O Convento, sob a invocação de São Francisco e São Domingos, foi inaugurado em 1647. Ao seu lado direito estava a igreja da Ordem Terceira de São Francisco, com ricos altares e bonitas imagens.
            Até então, a elite brasileira concluía sua formação na Metrópole, notadamente na Universidade de Coimbra. Até a reforma pombalina, a educação era influenciada pela Companhia de Jesus.
            Com a reforma do Marquês de Pombal, o liberalismo sacode as estruturas educacionais portuguesas. Entretanto, o liberalismo português combinava o ideário liberal (com o fim de modernização econômica), com o poder estatal-concentrado. Um paradoxo, influenciando o futuro Estado brasileiro.
            Com o advento de Independência, as elites brasileiras necessitavam constituir quadros para a administração do novo país.
            Todavia, nosso liberalismo se revelou mais um discurso ideológico, do que uma praxe política.
            Assim, nasce o ensino jurídico pátrio: "guardião dos ideais liberais do Estado constitucional”, mas objetivando fornecer quadros para o aparelho estatal-centralizador.


23. NÓBREGA E SUA VISÃO

                   O padre Manoel de Nóbrega, vencendo a serra, verificou que Piratininga era “escala para muitas nações de índios”.
                   O ouro de lavagem, descoberto por Afonso Sardinha, no Jaraguá, provocara a ganância da administração portuguesa, objetivando beneficiar-se da capacidade de mobilização e da agressividade do homem paulista.
                   As construções em Piratininga, revestiam-se de taipa e palha, eram rústicas e frágeis. O piso era feito de uma mistura de barro, tabatinga, areia e bosta de boi socada, ficando quase tão duro como ladrilho.
                   A casa do índio era de pau e palma. Este era nômade.
                   O piratiningano assimilou a cultura aborígine, melhorando, com paus de mato e barro (barrote).
                   A população de Piratininga, em 1606, não excedia a 190 moradores. Na rua Martim Afonso Tibiriçá, Amador Bueno, possuía casa, porém permanentemente morava no sítio do “Manaqui”.
                  O edifício do convento de São Francisco foi desocupado em 1828, por exigência do governo imperial, para instalação da Academia de Ciências Sociais e Jurídicas.
                   A capital do império, a cidade do Rio de Janeiro já contava, naquela ocasião, com mais de 200 mil habitantes. Todas as atenções se voltavam para a Corte.
                   A cidade de São Paulo, por ocasião da instalação da Academia de Direito, contava com 26 mil habitantes.
                   Não obstante, os maiores luminares da cultura, se encontrarem na   Província de São Paulo, dentre eles, José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência, que nascera em Santos, no ano de 1763; seus irmãos, Martim Francisco e Antonio Carlos, também faziam parte da intelectualidade da Província de São Paulo.
                   A instalação do Curso Jurídico em São Paulo, abriu novas perspectivas, horizontes amplos e generosos.
                   Quando em 1830, o Ouvidor Cândido Japiassu mandou assassinar o médico italiano João Batista Badaró (que por motivos políticos havia abandonado seu país e se estabelecera em São Paulo), este tomara a defesa dos moços que haviam sido presos a mando do Ouvidor Japiassu. Libero Badaró, através do periódico Observador Constitucional, zurziu, enérgico e até insolente, increpando o Ouvidor de absolutista, perseguidor dos liberais e magistrado corrupto. Com isto convulsionaram-se os ânimos, de maneira que se receavam sucessos excepcionais. 
                 Na noite de 20 de novembro de 1830, esperavam-no quatro vultos (que se verificou depois serem uns alemães, assalariados para isso). Abordaram Badaró à porta de sua residência, dizendo-lhe que desejavam publicar uma correspondência contra o Ouvidor. Badaró, nada suspeitando, respondeu que talvez o fizesse e que voltassem no dia seguinte. Ao pronunciar essas palavras, um dos vultos aferiu com um tiro. A vítima gritou pedindo socorro e exclamando que fora o Ouvidor Japiassu que o mandara assassinar.



Acudiram-no alguns estudantes, que o recolheram na casa e procuraram meios de salvá-lo. No dia seguinte, o povo acorreu ao local, todos os facultativos da cidade foram visitá-lo e, então, se conheceu que a ferida era mortal. Ao receber a notícia, o moribundo, com toda presença de espírito, pediu aos seus amigos que se abstivessem de toda idéia de vingança. Suas últimas palavras foram: “morre um liberal, mas não morre a liberdade” – gravadas sobre o seu túmulo.
                   A casa de Japiassu foi cercada pelo povo em tremendo clamor.
                   Estando, Dom Manuel Joaquim exercendo a Presidência da Província, era o vinte e um de novembro de 1830, dirigiu, ao comandante das armas, o ofício, no qual constava que, entre os vultos, estava o alemão Henrique Stock, a quem se atribuía a morte do inditoso Badaró.
                   O padre Feijó fazia parte, naquela ocasião, do governo de São Paulo e graças à sua astúcia salvou-se Japiassu.
                   Diogo Feijó percebeu que a vida do Ouvidor Cândido Ladislau Japiassu corria grave perigo e, querendo salvá-lo das iras populares, pediu ao bispo-presidente uma reunião dos membros do governo e fez espalhar na cidade a notícia de que os alemães de Santo Amaro vinham atacar a cadeia, onde estavam presos dois alemães, autores do crime de morte, na pessoa de Badaró. Desta maneira por sua iniciativa o governo deliberaria com responsabilidade coletiva e a multidão, estacionada em frente à casa em que Japiassu havia se refugiado, iria postar-se em defesa da cadeia. Foi o que ocorreu. Japiassu se viu livre da impetuosa fúria popular e a cadeia ficou perfeitamente guardada.
                   Japiassu foi remetido preso para o Rio de Janeiro, onde por falta de provas, foi absolvido pela Relação.
                   Apresentando o Convento São Francisco melhores condições para adaptação de uma escola de nível superior, foi escolhido para instalação do curso jurídico.
                   A inauguração das aulas ocorreu numa sala da antiga sacristia do Convento.
                   Em frente ao Convento havia um enorme quintal cercado, deixando apenas um pequeno pátio fronteiro à igreja, que se chamou “Largo do Curso Jurídico”.
                   O acontecimento de maior importância, da primeira metade do século XIX, foi a instalação da Academia de Direito, arrancando São Paulo de seu sono colonial.
                   Os estudantes animaram a cidade.
As celas foram transformadas em salas de aula, secretaria, biblioteca e demais dependências.
                   Na esquina do antigo Convento de São Francisco com o Beco da Santa Casa, existiu o “Chafariz do Curso Jurídico”. Em 1831, em regozijo pela abdicação de D. Pedro I, passou a se chamar “Chafariz da Liberdade”.
                   Na rua  São José morou o médico italiano.


24. MORRE O PRIMEIRO IMPERADOR

                   Há de se reverenciar a personalidade ilustre de D. Pedro I, que   apoiou e  assinou, a lei de 11  de agosto de 1827, criando os cursos de Ciências Jurídicas e Sociais. E, nessa reverência, ressaltar os últimos instantes de sua vida.
                   Já, desde de 29 de agosto de 1834, tivera D. Pedro I pressentimento de que breve morreria e de que o 21 de setembro marcaria o fim de sua existência. Pediu à sua filha, D. Maria II que, logo que falecesse, promulgasse um decreto restituindo a liberdade a todos os indivíduos, que se achassem presos por delitos civis ou políticos e que não fizessem exéquias reais, porém, as simples honras devidas ao comandante em chefe do exército português.
                   Em 24 de setembro de 1834, no paço de Queluz, em Lisboa, no mesmo aposento onde havia nascido, tendo abraçado a esposa e a filha e recebido os socorros da igreja, exalou seu último alento, revestido da mesma heroicidade com que tinha vivido.
                  Tecendo o elogio de D. Pedro I, em seu jornal, escreveu Evaristo da Veiga: "Não foi um príncipe de ordinária medida; existia nele o germe de grandes qualidades, que defeitos lamentáveis e uma viciosa educação sufocaram em parte; e a Providência o tornou num instrumento poderoso de libertação, quer no Brasil, quer em Portugal. Se existimos como corpo de nação livre, si a nossa terra não foi retalhada em pequenas repúblicas inimigas, onde só dominasse a anarquia e o espírito militar, devemô-lo muito à resolução que ele tomou de ficar entre nós, de soltar o primeiro grito da nossa independência. D. Pedro, capaz de entusiasmar-se pela glória, dotado de figura esbelta, de grande robustez e agilidade física, achou-se por uma posição não comum, à testa dos liberais do Brasil em 1822, e dos de Portugal em 1833. Era apto para sustentar e levou mesmo ao cabo uma empresa tão grande como as duas a que se abalançou, quer pelo prestígio de seu nascimento, quer pela prontidão um tanto estouvada do seu espírito".

                           25. ORIGENS DE SÃO JOSÉ DO PARAYBA  
                   Por lei, sancionada em 10 de setembro de 1611, foram criadas as aldeias dos índios, nos pontos de melhor conveniência. Coube aos Jesuítas a organização dos aldeamentos. Em 1643 os padres obtiveram, para os índios, quatro léguas de terras em quadra, em São José do Parayba, concedidas por João Luís Mafra, cavaleiro fidalgo da Casa de Sua Majestade e lavradas pelo escrivão Antonio Velho de Melo, no livro número 11, de Sesmarias Antigas.
                   Em seguida foi descoberta uma taba, denominada “Lavras”, onde os jesuítas colheram frutos das minas, puríssimo ouro. O local passou a ser conhecido pelo nome de “Tanque dos Índios”, trecho alagadiço da Fazenda Montes Claros, fundada por Dom Manuel Joaquim, situada nas imediações do Bairro das Lavras. Esse trecho da Fazenda é, até hoje, denominado “Tanque dos Índios. A Fazenda “Montes Claros”, estava localizada no Bairro do Rio do Peixe. Sua denominação lhe foi inspirada pelo ponto de Coimbra, Montes Claros, localizado em Cruz de Celas.
                   O rio do Peixe desce da Mantiqueira, tendo por tributários, em São José do Parayba, os ribeirões Chico Cândido, Santa Bárbara, Santo Antônio, Rio Manso, Ferreira Couves, Cafundó e Roncador, pela esquerda; pela direita, dos ribeirões Machado e Guerra.
                   São José do Parayba era habitada por elementos da tribo “Guaianás, a mais culta e composta dos melhores índios da América oriental”.
                   A denominação São José é obra e arte dos jesuítas, objetivando homenagear José de Anchieta, que encerrara seu ciclo de existência em 9 de junho de 1597. Ademais, a Ordem de Cristo tinha, por reverência, a sigla JMJ, significando Jesus, Maria, José.
                   São José do Parayba passou por várias denominações: Nova de São José, São José do Parayba e São José do Sul. Foi fundada, em 10 de setembro de 1611, pelos Jesuítas.




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